O Isidoro, aluno da primeira classe, contou na aula que tinha um vizinho novo, o senhor Mindonça. O professor, que ouviu a conversa, emendou-o: “Não é Mindonça, é Mendonça, que se diz”. O Isidoro insistiu: “Desculpe, mas o meu vizinho é Mindonça. Sempre que o meu pai vai à rua, ele pede-lhe: ‘Faça-me um favor, senhor Lopes, traga tabaco para mim d’onça!”
Vocês já não são do tempo da onça de tabaco e do papel para cigarros, que se comprava nas tabacarias, e depois se enrolava e fechava com cuspo, para fumar. Até vai um “gadget” (como se diria hoje) para fazer o cigarro à mão e sa´´ia mais direitinho. Nem do rapé e das caixinha de rapé. tabaco para cheirar. Ainda hoje se coleccionam essas caixinhas, algumas de prata e muito artísticas.
Pois o meu “avô” adoptivo Jacinto, de Camarate, pedreiro de profissão, costumava dizer que no inverno “não ganhava para o tabaco.”
O tabaco e o seu fumo estão agora nas bocas do mundo.
Fumar ou não fumar em lugares públicos?
Direito dos “fumadores passivos” a proteger a sua saúde?
Direitos dos fumadores activos a desfrutar livremente do seu vício?
Nenhuma destas perguntas se situa no âmbito deste cantinho de conversa.
Mas que dá oportunidade para algumas histórias, ah isso dá!
O tabaco é originário do Novo Mundo, sobretudo da América do Sul, e foram os espanhóis e os portugueses que o trouxeram para a Europa, ao mesmo tempo que o seu uso e a maioria das palavras com ele relacionadas.
O fumo do tabaco começou por ser um acto sagrado entre os índios das Américas. Circulam entre eles muitas lendas sobre os espíritos que trouxeram essa tradição para os seres humanos. A mais consistente em diversas regiões é a do Grande Espírito, que reuniu o povo num alto precipício, de paredes de quartzo, e, partindo um pedaço da rocha vermelha, construiu o primeiro cachimbo. Foi com base nessa lenda que se iniciou a tradição dos índios fazerem peregrinações â Rocha Vermelha dos Cachimbos, e lá construir o seu cachimbo sagrado individual com a pedra daquela rocha..
A palavra cachimbo, que usamos em português, veio da língua africana bundo, ou quimbundo (Angola), na qual o cachimbo se dizia “quixima”.
Tabak era uma palavra da língua caribe, falada pelo povo Caribe, habitante das Caraíbas. Na sua língua “carib” significava “inteligente”.
Não se sabe ao certo se eles chamavam “tabak” ao cachimbo, se às folhas da erva do tabaco, enroladas como os cigarros, para fumar.
Na língua maya o tabaco chamava-se siyar ou sikar. Daí recebemos a palavra “cigar”. Para o português ficou cigarro. Para os ingleses, “cigar” é o que nós chamamos “charuto” . Os ingleses têm um tipo de charuto, com as duas pontas cortadas, a que chamam “cheroot”, nome derivado de “shuruttu”, na língua tamil (Sri Lanka, ou Ceilão, como se chamava a ilha no tempo em que eu estudei. Agora andas os tamils revoltados, desejando a independência).
Dizem os contadores de histórias que no século XVIII, em Sevilha, os mendigos começaram a apanhar do chão as pontas dos cigarros, que os “meninos ricos” deitavam fora. E então enrolavam esse tabaco em papel, chamando-lhes “cigaretas”.
Daí adaptaram os ingleses a sua palavra para os cigarros, que depois foi seguido no francês e no alemão, com grafias diferentes – “cigarette”, ou seja um charuto pequeno. ~
O nome científico da planta do tabaco é, como sabem Nicotiana tabacum.
O produto activo do alcatrão, que “adorna” as paredes dos pulmões dos fumadores inveterados, chama-se “nicotina”.
Foi seu padrinho o médico francês Jean Nicot, que usava o tabaco como medicamento, para minorar as enxaquecas de Catarina de Médicis., rainha de França.